Quando nos ferimos e sangramos, as proteínas (elementos responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento de todos os tecidos do corpo) entram em ação para estancar o sangramento, em um processo notoriamente conhecido e chamado coagulação que ocorre após uma sequência de fatores agirem em uma cadeia determinada.
Pessoas com hemofilia, um distúrbio genético e hereditário na coagulação do sangue, não têm essas proteínas, portanto sangram mais do que o normal porque o coágulo não se forma. Esses sangramentos podem ser externo ou internos, como nos músculos, acontecendo após um trauma ou sem nenhuma razão aparente, o que torna a doença ainda mais perigosa.
A gravidade dos sangramentos depende da quantidade de fatores presentes no plasma do sangue, que representa 55% do volume total, então os 2 tipos de hemofilia, A e B, são iguais nesse sentido. De acordo com o Unidos pela Hemofilia, estima-se que existam cerca de 350 mil hemofílicos no mundo atualmente.
A “maldição”
Nascida Alexandrina Victoria, em 24 de maio de 1819, em Londres, a rainha Vitória assumiu o trono do Reino Unido e da Irlanda em 1837, permanecendo até sua morte, aos 81 anos, em 1901. Ela ficou conhecida como a “avó da Europa”, não só devido ao tempo que ficou no poder, mas também porque a maioria dos atuais membros da realeza podem traçar sua linhagem até ela.
Contudo, essa conexão familiar toda teve um preço para sua linhagem: a rainha Vitória carregava o que os médicos e o mundo chamou “maldição real” ou “maldição sanguínea”: ela era hemofílica, tinha a deficiência do Fator IX, que a fazia ter o tipo B da doença.
Rainha Vitória nunca manifestou a doença, mas seu filho Leopold não teve a mesma sorte. Vitória não acreditava carregar o gene da hemofilia, tanto que dizia aos médicos que não se lembrava de ninguém na sua família que tivesse exibido sinais da doença. No entanto, seu meio-irmão morreu de sangramento quando ela ainda era muito jovem, embora não tenha sido especificado se foi em decorrência da hemofilia herdada de sua mãe.
O público mesmo não percebeu que Leopold tinha hemofilia até depois de sua morte, aos 30 anos, de hemorragia após uma queda. Até lá, o garoto foi cercado por inúmeras restrições impostas por sua mãe desde pequeno, isso porque ele também sofria de epilepsia. Inclusive, acredita-se que foi um ataque epilético na vida adulta que o fez cair e se machucar, causando um sangramento interno incontrolável.
A disseminação
Ainda que a rainha Vitória não soubesse haver transmitido a doença ao filho, porque tinha muitos filhos e apenas Leopold a manifestou, a hemofilia se tornou uma sentença de morte política naquela época.
Se qualquer outra família real sentisse que algo estava estranho, eles seriam retirados de toda e qualquer lista real de elegibilidade ao trono, e a rainha tinha muitos filhos que ainda precisavam se casar com outras famílias reais para manter o poderio na sucessão do título. Quem iria querer entrar para uma família “amaldiçoada”?
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Ainda que a forma da doença esteja extinta nas linhagens reais da Europa agora, a doença sanguínea da Rainha Vitória foi disseminada para outras famílias reais, que sofreram as graves consequências da doença de maneira abrupta, principalmente na linha de sucessão de sua filha Alice, que perdeu o filho Frederick, de 2 anos, após vê-lo sangrar por 3 dias devido a um corte na orelha.
A princesa Beatrice, segunda filha de Vitória, foi a culpada por levar a doença para mais longe ainda, para a Prússia, embora ela se tenha casado com o neto de Vitória. Portanto, apesar de a rainha ter sustentado e feito progredir as maiores famílias reais da Europa, ela também os “amaldiçoou”.
Via MegaCurioso