Em 2005, o longa-metragem americano “A Sogra”, do diretor Robert Luketic, encapsulou um problema muito comum na vida de milhões de casais ao redor do mundo: a eterna batalha silenciosa entre sogras e noras.
Seja na interferência das matriarcas no dia a dia do casal ou em relações extremamente dependentes entre mãe e filho, a desavença de sogras e noras é um tema extremamente difícil dentro dos relacionamentos: um levantamento do Instituto do Casal revelou que, para 26% dos casais brasileiros, a sogra é um dos principais motivos de desavença no relacionamento.
Esse foi o caso da jornalista Elaine*, que, aos 45 anos, se viu em uma situação extremamente complicada: depois de se mudar para a cidade natal do esposo, a sogra Patrícia* começou a visitar o lar do casal diariamente, no intuito de cozinhar para o filho. “Ela realmente batalhava até pelo apetite do meu ex-marido e se negava a comer minha comida. Uma rivalidade absolutamente infundada, já que ela não me conhecia direito”, detalha.
A solução, para a profissional, foi o divórcio. “Ele não soube lidar comigo e com ela ao mesmo tempo. Foi realmente humilhante, mas eu aprendi que é muito importante entender a família da pessoa que você está se envolvendo. Uma verdadeira lição.”
Os obstáculos enfrentados por Elaine* e retratados no filme de Luketic são problemáticos, mas o divórcio nem sempre é a solução final: as desavenças entre sogras e noras podem ser tratados com ajuda da terapia e do diálogo.
O terapeuta de casais Anderson Gomes dos Santos aponta que, na maioria dos casos, as brigas são motivadas pelos mesmos acontecimentos: a falta de posicionamento do marido e a confusão de papéis entre sogra e nora.
O psicólogo também aponta que a diferença das gerações e culturas também é um fator que prejudica o relacionamento da família. Na vida de Elaine, foi exatamente esse problema que a afastou do marido: “a minha sogra realmente acredita que tinha que servir a ele, aquele papel de gênero solidificado que deixou de ser o padrão a muito tempo. Foi devastador.”
E a sogra?
Se é possível um relacionamento sobreviver ignorando a presença da sogra? Para Anderson, é uma questão para debate. “Pelo menos não de maneira saudável, pois sempre será uma relação de parentesco obrigatória e necessária, ou seja, uma não poderá excluir a outra e os conflitos serão inevitáveis, principalmente nas datas comemorativas e festas de final de ano, quando a maioria das famílias se encontra. Elas jamais podem esquecer que possuem uma coisa em comum, que é o filho, netos ou futuro netos.”
A questão, para o profissional, é que os papéis devem ser bem claros: sogras são sogras, e esposas são esposas. “Como diz o ditado, briga de marido e mulher ninguém mete a colher, muito menos a sogra”, reflete Anderson. “A partir do momento em que o filho se casa, a mãe não deveria mais intervir ou influenciar nas decisões do filho, pois agora, quem irá reinar ou quem será prioridade na casa é a sua esposa.”
Isso não significa que o filho deve ser indiferente, abandonar ou deixar de amar a sua mãe, reitera o especialista. Significa, nesse caso, que o marido deve colocar limites para proteger seu casamento.
O terapeuta de casais Eric Reis reflete que sogras causam problemas nos relacionamentos porque desejam permanecer criando os filhos, mesmo depois da infância e da adolescência. Opinando e julgando o relacionamento e as escolhas das noras, elas continuam exercendo o papel da maternidade que, pelo tempo, foi amenizado.
O problema, é claro, é que o antigo papel de mãe não cabe mais nesse momento. “A partir da vida adulta a relação deve mudar, não é mais uma questão hierárquica, e sim uma questão de honra e respeito para com aquela que te educou. A mãe precisa entender essa fase: o seu filho é um adulto e tem sua própria família”.
E o que fazer?
O casal não deve ignorar os conflitos e dificuldades dessa relação. Ela é naturalmente complicada, e deve ser discutida com maturidade e respeito por todos os envolvidos.
A solução, para os especialistas, está na prevenção dos problemas. Gomes explica que, em seu consultório, ele busca explicar para noivos que, na união com o parceiro, a família está inclusa. Hábitos, valores, culturas e outras bagagens muito diferentes se tornam parte da vida do casal, e saber lidar com isso é essencial para a saúde do relacionamento.
Erick menciona que, em casos mais extremos, a melhor solução é o distanciamento. No entanto, ele reitera que é interessante que o casal reflita uma posição de amadurecimento, pelo menos em um dos lados, para que exista um mínimo de convívio.
O segundo conselho mencionado pelos especialistas é de priorizar a independência do casal acima de tudo. Morar junto com a sogra, nesse caso, é uma ameaça para o relacionamento, já que os limites entre a família e o casal começam a ser ultrapassados, mesmo que não intencionalmente.
“O primeiro limite deveria ser físico. Aconselho que noivos, antes do casamento, se planejem para morar longe dos pais, para assim evitar que a sogra presencie seus conflitos e queira se intrometer na relação. E mesmo que seja uma moradia temporária, até o casal conseguir a sua casa, é possível conviver no mesmo quintal ou dentro da mesma casa se os mesmos estabeleceram uma comunicação assertiva”, diz Gomes.
Estimular o diálogo entre noras e sogras também é fundamental. A terapeuta Daniela Fidelis aponta que conversar, ser honesta sobre os problemas e incômodos e ouvir a sogra com respeito são passos para um relacionamento mais saudável. “Elas são pessoas com mais experiência. [Nessa conversa], vale pegar aquilo que faz sentido e o que não faz e não se afetar”.
“O casal deve estabelecer um contrato verbal entre eles, saber os limites inegociáveis de cada um. O que é permitido e o que não é. O que vamos compartilhar com nossas famílias, em quais situações? É proibido falar da nossa intimidade com eles? Pode falar mal? Sem dúvida, isso evitaria muitos divórcios e separações”, finaliza.
Fonte: Lais David ( iG/Delas )