Lilith é uma figura da mitologia hebraica mencionada como a primeira esposa de Adão na Torá e em diversos textos midrásicos. Em algumas interpretações, Lilith é descrita como uma mulher independente e rebelde que recusa submissão a Adão e, como resultado, é banida do jardim do Éden.
Em outras interpretações, ela é vista como uma deusa pagã associada ao poder feminino e à sexualidade. Em algumas culturas, Lilith é associada ao mal, sendo vista como uma criatura demoníaca. Em outras, ela é adorada como uma divindade benéfica e protetora.
Sobre a lenda de Lilith
De acordo com J. Gordon Melton, Lilith é “uma das mais famosas figuras do folclore hebreu, originou-se de um espírito maligno tempestuoso e mais tarde se tornou identificada com a noite”.
Lilith é mencionada em fontes antigas, incluindo o épico babilônico de Gilgamesh (2000 a.C.), Talmude Babilônico, Zohar (livro do Esplendor), e na Cabala. Relatos são variados e discordantes. Como o professor de seu catequizando é judeu, provavelmente ele esteja se referindo à versão que consta no Talmude Babilônico.
O texto de referência deste Talmude é a edição hebraica e inglesa, intitulada “The Babylonian Talmud” organizada pelo rabino Epstein. Esta edição foi publicada pela Socino Press, de Londres, em 1978.
Por esse motivo ela não teria aceitado uma posição inferior em relação ao homem, pois sendo criada da mesma forma, exigia os mesmos direitos, não aceitou uma posição submissa e assim desentendeu-se com Adão.
No primeiro ato sexual, Lilith não aceitou ficar por baixo, aguentando o peso do corpo do companheiro e exigiu ter também o direito ao gozo e ao prazer sexual.
Como não foi atendida em seus anseios, ela se revolta e pronuncia o nome “inefável” que lhe deu asas por meio das quais fugiu do Jardim do Éden.
Assim, Lilith abandonou Adão com quem não se entendia e foi para as margens do Mar Vermelho. Adão ficou só e reclamando, tendo medo da escuridão opressora.
Daí haver uma relação entre Lilith e a Lua Negra, a escuridão da noite, por isso a associação dela com a coruja, o pássaro noturno. Segundo a tradição talmúdica, Lilith é a “Rainha do Mal”, a “Mãe dos Demônios” e a “Lua Negra”.
Deus enviou três anjos para trazer Lilith de volta ao Éden, mas ela se recusou. Como resultado, ela foi expulsa e substituída por Eva, uma mulher submissa feita de uma costela de Adão.
Segundo a tradição hebraica, Lilith se estabeleceu nas margens do Mar Vermelho com os demônios e espíritos malignos, tornando-se um demônio por se afirmar contra o homem e questionar seu poder.
A Tese do sumiço da lenda de Lilith da Bíblia
Segundo Roberto Sicuteri autor do livro “Lilith, A Lua Negra”, houve uma transposição da versão javista da Bíblia para a versão sacerdotal. Foi aí, que segundo ele, a lenda de Lilith teria sido eliminada da Bíblia, fazendo todos crerem que foi Eva a primeira mulher, mas em Isaías 34,14 ficara ainda um indício sobre Lilith.
Resposta à questão:
A tese de Roberto Sicuteri de que uma tradição sacerdotal suplantou uma anterior javista não é comprovada pelos especialistas.
As tradições javista, sacerdotal e eloísta identificadas na crítica científica do Antigo Testamento são apenas hipóteses de estudo, e não existe consenso sobre sua existência ou sucessão. Afirmar uma suplantou a outra é imprudente.
Não há evidência de que os textos bíblicos tenham sido alterados por homens não “fiéis” a Deus. Existem mais de 56.000 manuscritos do Antigo Testamento preservados, desfazendo a tese de sua transposição. Além disso, é improvável que profetas tão próximos a Deus tenham enganado o povo de Israel com um texto falso.
Referência de figuras mitológicas na Bíblia cristã
Em Is 34,14 lemos:
“Nela se encontrarão cães e gatos selvagens, e os sátiros chamarão uns pelos outros; espectro noturno frequentará esses lugares e neles encontrará o seu repouso”
Tradução da Biblia “Ave-Maria”
“As feras do deserto se encontrarão com as feras da ilha, e o sátiro clamará ao seu companheiro; e os animais noturnos ali pousarão, e acharão lugar de repouso para si”
Tradução Almeida Corrigida e Fiel
O termo que no português foi traduzido como “espectro noturno” ou “animais noturnos” é “liyliyth”.
Segundo o léxico hebraico (3) “liyliyth” significa: “1. Deusa conhecida como um demônio da noite que assombra os lugares desolados de Edom. 2. Animal noturno habitando em lugares desolados”. Septuaginta traduziu o termo como “pardalis”, ou seja, pantera, ou fera negra.
A Bíblia muita vezes se refere a agentes capazes de trazer o mal (demônios, feras selvagens e etc) por figuras mitológicas. Um exemplo é Leviatã referido no AT em Jó 3,8; 40,20; Sl 73,14; 103,26. No entanto, isso não significa que a Bíblia está endossando a existência do Dragão da mitologia fenícia.
Israel era cercado por povos pagãos, teve contato com a cultura deles, logo sofreu alguma influência por conta deste convívio. A Bíblia, embora seja considerada divina por cristãos, se expressa não poucas vezes de forma humana, para se fazer entender. Portanto, é natural que Deus, no texto, se sirva de termos comuns que signifiquem o mal. O próprio profeta Isaías também utilizou a figura de Leviatã em Is 27,1.
A existência de Lilith e suas histórias associadas, assim como a de demônios tendo relações sexuais com humanos e vampiros, são consideradas fantasia e não têm base em fatos. Não há evidência de que esses seres existam na realidade.
Para compreender o uso do termo “Lilith” por Isaías no capítulo 34, é importante lembrar seu significado no léxico hebraico. É importante também considerar os versículos anteriores ao versículo 14 do mesmo capítulo.
“A espada do Senhor está coberta de sangue, está impregnada de gordura, do sangue dos cordeiros e dos bodes, da gordura dos rins dos carneiros.
Porque há um sacrifício ao Senhor em Bosra, uma grande carnificina na terra de Edom; em vez de búfalos, os povos aí tombarão, uma multidão de robustos guerreiros, em lugar de touros. Sua terra embeber-se-á de sangue, o chão impregnar-se-á de gordura”
(Is 34,6-7)
Edom é a terra dos descendentes de Esaú, inimigos de Israel. Aqui o Profeta está anunciando que Deus fará justiça por Israel “porque é para o Senhor um dia de vingança, um ano de desforra para o defensor de Sião” (v. 8). Sião é o monte santo localizado em Belém, na Cidade de David (cf. 2Sm 5,7); é uma referência ao Povo de Israel.
Já que no folclore judaico Lilith é um demônio que aterroriza Edom, logo o profeta se utiliza desta figura para referir-se à desolação que se abaterá sobre os edomitas, tornando sua terra a morada do nada ou dos demônios (“liyliyth”).
A existência de Lilith apresenta outro problema teológico. Com o pecado original, Deus amaldiçoou a terra (cf. Gn 3,17) por isso o gene em Adão e Eva ficou “defeituoso” (pois vieram da terra). Se Adão perdeu seus “super poderes” com a maldição da terra, logo Lilith, que segundo a lenda foi formada da mesma terra, deixaria de ser um demônio e consequentemente voltaria a ser uma mortal.
***Com informações de Cleofas.
ATENÇÃO: Esse texto foi criado do ponto de vista abraâmico.
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